Por que eu financiei o Cook-off
Por Arnaldo V. Carvalho
Há algumas semanas atrás ajudei um jogo de cartas a ser
lançado no mercado. O jogo é uma brincadeira que gira em torno de um concurso
fictício de culinária onde participam chefs caricatos e trapaceiros. Os
jogadores montam suas receitas e sabotam as receitas alheias.
O jogo é belo,
irônico, divertido, interativo – um belo presente para um amigo gourmet ou
gourmand, para uma família que gosta de estar junto, ou quem sabe um conhecido
que pretende fazer uma viagem de trem pela Itália ou outro centro gastronômico
mundial. Um jogo a casar com uma boa tábua de queijos e um vinho de qualidade
junto a bons amigos. Uma brincadeira a envolver o avô, os tios e sogros com os
pais dos bebês que dormem no carrinho próximo aos sofás da sala onde todos
riem.
Todavia, os amantes de jogos de tabuleiro – que movimentam
um crescente mercado voltado a um exigente público adulto de média-alta
condição socioeconômica - parecem não ter se empolgado em promover o lançamento
do Cook-Off. Acredito que o tema (culinária) e o perfil levíssimo (filler) do
jogo não favoreceu. E assim, até o fechamento desta matéria, o financiamento
coletivo ainda estava longe de atingir sua meta.
Naturalmente, a Funbox está aprendendo muito com essa
primeira iniciativa, e talvez o grande equívoco relacionado ao marketing de
captação seja a estratégia de divulgação. Minha percepção é que ela se
restringe demais aos nichos gamers, e os gamers querem jogos mais estratégicos,
querem jogos mais euro, e querem Best-sellers. Até certa medida, o Cook-off
ainda foi “atrapalhado” por esse meio ao ser promovido quase junto ao
lançamento da versão nacional do Munchkin, com quem compartilha algumas
características (divertida troca de implicâncias entre os jogadores). E
finalmente, há a concorrência por patrocínio, onde disputam diversos títulos
nacionais e internacionais que visam ser publicados através do sistema de crowd
funding.
Se fosse um gamer típico, também não sei se curtiria tanto o
tema do jogo. Possivelmente, não investiria o valor estimado (cerca de R$75,00)
no Cook-off se o encontrasse numa prateleira da Ri Happy ou a venda no Mercado
Livre. Mas acho que há bons motivos para a comunidade inteira participar do
financiamento coletivo do primeiro jogo da Funbox.
Primeiro que prestigia o jogo nacional de qualidade – e
disso ninguém duvida, a arte é primorosa e estou certo de que o acabamento dos
componentes seguirá essa linha. Segundo que o financiamento pode ser até mesmo
de R$5,00, o que não mata ninguém. Terceiro, colabora para o nascimento de uma
nova fabricante de jogos que se somará a Galápagos e Devir e como a fornecedora
de jogos com qualidade internacional oferecidos – a Funbox.
É bom frisar que outros financiamentos coletivos de jogos
nacionais, alguns bastante interessantes por sinal, são medidas igualmente
apoiáveis. Mas são iniciativas independentes, e não lançamentos capaz de
alavancar outros, feitos por uma empresa com planejamento de lançamentos
sistemáticos em longo prazo. Cook-off não é o sonho de uma pessoa que quis ver
seu jogo publicado, mas o sonho de um grupo que quer oferecer a chance de ver
muitos desses sonhos publicados.
Reclamamos tanto e durante tantos anos do parco
desenvolvimento do mercado nacional, e quando ele finalmente lança suas
sementes, não oferecemos a cobertura necessária para ele vingar no solo
brasileiro.
Nos jogos, como nos livros e filmes, parece que o brasileiro
tem preconceito contra si mesmo. Prefere sempre o importado, seus olhos se acostumaram
a acreditar que o que vem de fora é sempre melhor. Sabemos que não é assim.
Vejo isso no Recicle, que é sempre bem comentado mas nunca jogado. O primoroso
trabalho de Luish felizmente soube ser vendido, aproveitando o tema e
participando de campanhas de interesse público. Mas os amantes de jogos mesmo
são monótonos: “o jogo é muito bom”. E lá fica ele na prateleira.
Em alguns meses, eu terei
o orgulho de receber a caixa autografada do Cook-off. Financiei o
primeiro do que será uma grande (em qualidade e quiçá quantidade) coleção de
jogos a ser disponibilizada pela Funbox no próximo ano. E possivelmente, vez
por outra, olharei para a estimada caixinha e pensarei: “O primeiro Funbox game
a gente nunca esquece”.
* * *
Site do financiamento: http://funbox.com.br/thecookoff/
Término: 27/04/13
Designer : Luis Francisco
Artista: Marcelo Bissoli e Luis Francisco
Publisher: FunBox Jogos
Nº de jogadores: 4 a 6
Duração: 40 minutos
* * * Artista: Marcelo Bissoli e Luis Francisco
Publisher: FunBox Jogos
Nº de jogadores: 4 a 6
Duração: 40 minutos
Arnie Carvalho é um
Polímata dedicado ao maravilhoso engenho do Homo ludens.
Parabéns pelo post e pela análise da situação feita aqui, Arnaldo. Com certeza o The Cook-off merece nosso apoio e todos nós torcemos pelo sucesso da FunBox Jogos nessa empreitada.
ResponderExcluirGrande abraço
Valeu Jaime! A ideia do post é tecer uma análise honesta não simplesmente em relação ao Cook-off, mas em relação ao contexto em que ele está sendo lançado. Torço muito pelo projeto, pelo próprio bem do mundo dos jogos. Abraços, Arnaldo
ResponderExcluirJa garanti o meu!
ResponderExcluir