Por Arnaldo V. Carvalho
Vanessa Santos - Eu morava nos EUA e todas as vezes que
vinha para o Brasil pediam para a gente [Vanessa e Wagner] levar muitos jogos.
Nós mesmos tínhamos uma coleção enorme, eram quatrocentos e tantos jogos. Não
tinha parede na casa para tantos... Aí falei pro Wagner na época, “Por que a
gente não abre uma locadora”? Jogos de
tabuleiro importados são tão caros no Brasil, e assim os títulos ficam
disponíveis. Quase ninguém tinha os jogos, mas
queriam jogar antes, para conhecer e eventualmente comprar. O Wagner
gostou da idéia, e como tudo o que fazíamos, começamos a fazer uma listinha e
colocar a idéia no papel. Surgiu o projeto da “Fundelivery”: inicialmente a
idéia era alugar online e entregar e buscar por sistema delivery. Mas a idéia
nos EUA não daria certo, porque jogo lá é muito barato. Então vim para o Brasil
para estudar as possibilidades, e vi que na época (2009) não funcionaria o
esquema de delivery, e assim o nome Fundelivery não caberia mais. Então fazendo
uma pesquisa entre gamers, vimos que o segundo termo que as pessoas mais tinha
em mente ao pensar nos jogos era Box, caixa. Aí gente resolveu virar FUNBOX. E
foi assim que voltei ao Brasil para abrir a FUNBOX.
DB – Então a idéia
original é sua e do Wagner?
Vanessa Santos - O Alexandre estava com a gente desde a
Fundelivery. Aí começamos com a Funbox, ele tinha outros projetos e achou que
não ia combinar, então saiu após alguns meses de abrirmos, e ficamos eu e
Wagner. Atualmente, o Wagner saiu e hoje
toco a Funbox sozinha.
DB - Deu medo ficar
sozinha?
Vanessa Santos - No começo eu trabalhava fora para manter a
Funbox e o Wagner era o único que ganhava algum prolabore. Mas em 2012 eu tive
que trabalhar e tocar a Funbox ao mesmo tempo, e isso foi bastante complicado.
Em abril daquele ano cheguei a trabalhar 16-18H por dia e depois ainda ter que
cuidar da loja. Então, em setembro, precisei reduzir meu trabalho para meio
período, e assim foi até dezembro quando pedi as contas. Durante o período em
que precisei trabalhar e tocar a Funbox ao mesmo tempo sozinha houve uma queda
grande.
DB - E a Funbox mudou
muito de lá para cá?
Vanessa Santos - A FUNBOX já era muito do jeito que é hoje.
Em termos de atendimento não é muita coisa. O que mudou é que agora também
somos editora, e mudamos estruturalmente. O atendimento segue o mesmo.
DB – Vocês chegaram a
construir algum tipo de relação com editoras de jogos, etc.?
Vanessa Santos - No começo da FUNBOX fomos conversar com as
fabricantes nacionais como a Grow, Estrela, etc. para contar que estávamos
abrindo. A Grow mandou jogos para a gente, ela sempre nos apoia. A Estrela
também chegou a mandar alguns produtos como parceira. Para a gente é sempre bom
estar perto delas, e para elas somos uma importante fonte de feedbacks acerca
dos títulos que produzem.
DB – E a Funbox já se
mantem ? Já é lucrativa?
Vanessa Santos - A Funbox se mantém e cresce fazendo as coisas com calma. Temos projetos,
a editora saiu. Tudo o que fazemos é de forma cuidadosa. Nesse ano vamos
consolidar a Funbox Jogos, começando pelo Cook-Off.
DB – O que a Funbox
representa para o cenário dos jogos de tabuleiro no Brasil?
Vanessa Santos - Desde o princípio, nosso objetivo é
difundir os jogos de tabuleiro. Queremos fazer com que eles possam ser mais
acessados, divulgar para quem ainda não conhece, e ajudar a criar esse mercado
que até dois, três anos atrás era bem diferente. Então a gente começou com a
locadora trazendo jogos mais acessíveis e agora trazemos a editora. Além disso,
sempre fazemos palestras em faculdades, pós-graduações de jogos, etc. O objetivo sempre é mostrar o que é esse
universo, o qual a maioria das pessoas não tem idéia de que existe estamos aqui
como uma força a mais para fortalecer o mercado.
DB – Como é alugar um
jogo? Os jogos são devolvidos sempre bem? Como é isso?
Vanessa Santos - Nossos associados tratam muito bem os
jogos, não costumamos ter problemas. Claro que já tivemos ocasiões em que faltaram peças, mas de uma
forma geral eles são cuidadosos. Essa
questão [do cuidado] fez com que a gente prefira trabalhar com adultos. Criança
por exemplo não pode jogar na loja, e para levar para casa exigimos que a
pessoa seja maior de idade. De qualquer forma, a maioria dos nossos jogos são
em inglês e isso também forma um perfil de usuário mais restrito aos adultos.
Mas o mais importante é que, quando as pessoas entram aqui são tratadas como
amigos, assim como você foi. E dessa forma elas correspondem. Já não levam simplesmente
um jogo da Funbox, mas dos seus amigos.
DB – Os gamers
freqüentam muito a loja?
Vanessa Santos - A gente queria que o pessoal viesse mais. Gamer
mesmo vem pouco. Eles já tem muitos
jogos, então para eles não interessa muito. A gente quer fazer campeonatos aqui. Acho que vai dar certo.
jogos, então para eles não interessa muito. A gente quer fazer campeonatos aqui. Acho que vai dar certo.
DB - Qual é o jogo
campeão de mesa da Funbox?
Vanessa Santos - Depende do período. Havia momento momentos
que nossas cinco cópias do Arkham Horror
não davam conta. Os cooperativos de maneira geral fazem muito sucesso, até
porque é novidade entre os brasileiros. “Como assim todo mundo contra o
tabuleiro?” (risos) . Pandemic é sempre um jogo bem cotado.
DB - As pessoas
preferem jogar na loja ou levar para jogar em casa?
Vanessa Santos - Quando abrimos achamos que ia ter muito
mais gente para levar para casa. Mas tem muita gente que gosta muito de jogar
aqui, e passa o dia inteiro.
DB - O Crowd Funding
criado para o lançamento do Cook-off está atendendo as expectativas?
Vanessa Santos - Não. Mas isso não importa, mesmo que o
financiamento coletivo não atinja o montante proposto, vamos bancar o jogo e
quem comprou vai receber normalmente.
DB – O Mat (tabuleiro
individual) da Mirinha é um item promocional do Cook-off bem bolado e divertido,
e parece que será exclusivo do financiamento coletivo. Quando a gente olha para
ela, logo associamos com uma certa cozinheira famosa da TV… É isso mesmo? Como
surgiu essa idéia?
Vanessa Santos - Tinhamos ido ver as peças plásticas que
fazem parte do jogo. No caminho, passamos por uma revista na banca com Tia
Palmirinha. Comentei com os meninos: “Sabe o que seria legal? Poderíamos
homenagea-la e brincar com isso no Cook-off”. Então o Luís Francisco (designer
do jogo) sugeriu: por que não fazemos um mat com ela”? Daí pedimos ao Marcelo (artista
do jogo) um esboço dessa personagem exclusiva do Cook-off, ficou ótimo e
surgiu a nossa “Mirinha”. Um dia descobrimos um vídeo onde o boneco da
Palmirinha a ajudava a lembrar da palavra “faca”. Achamos bem engraçado, e esse
detalhe completou o desenho que foi pro Tabuleiro individual.
DB - Quando o jogo
será lançado?
Vanessa Santos - O financiamento termina no fim de abril, em
maio a gente entra produção e em junho já estará sendo vendido, um pouco mais
caro que o valor durante o período do Crowd Funding.
DB: Você se considera gamer?
Vanessa Santos – Com o tanto que já joguei e tanto que jogo,
sou sim.
DB – E dá tempo de jogar?
Qual é o seu jogo preferido?
Vanessa Santos - Tenho tempo, a gente sempre arruma tempo
para jogar. É comum chegar alguém aqui querendo jogar sem outras pessoas, aí a
gente faz o “sacrifício” de jogar com eles, rs. Meu jogo preferido hoje é o
Caylus.
DB – Pode nos contar
sobre algum momento especial que tenha vivido na FUNBOX?
Vanessa Santos - Um momento que me marcou bastante foi um
pouco antes de abrir a FUNBOX. Eu trabalhava fora mas havia participado da
primeira parte das obras de loja, montando prateleiras, etc. Por causa do trabalho fiquei três dias sem ir
e o Wagner falou “vamos lá”, mas sem me dizer que estava tudo pronto. Quando vi
tudo montado, a Funbox completamente pronta para abrir foi realmente realizador.
E agora sinto que uma emoção forte assim vem aí, quando lançarmos o Cook-off.
Arnaldo “Arnie” Carvalho, 37 anos, é terapeuta e boardgamer, criador do Niterói das Peças.
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Arnaldo “Arnie” Carvalho, 37 anos, é terapeuta e boardgamer, criador do Niterói das Peças.
Bela entrevista. Guerreira, a Vanessa. Trabalhar com jogos no Brasil é para poucos.
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