3 de set. de 2013

Viticulture

Depois de Vinhos, Grand Cru, Vintage, mais uma safra especial chega ao mundo dos boardgames. Já provamos os portugueses e franceses, desta vez é a hora dos Italianos. Separe sua melhor garrafa de vinho, um belo queijo e chame os amigos, pois vocês vão apreciar o Viticulture.

Objetivo: fazer o maior número de pontos de vitória entre a plantação das uvas e a produção dos vinhos.




Componentes:
1 Tabuleiro principal
6 Tabuleiro dos jogadores
118 Cartas
37 Meeples
65 marcadores/meeples (diversos formatos)
108 moedas
60 pedras transparentes

Cada dia mais jogos embarcam na produção via Kickstarter, e para chamar a atenção de seus propensos apoiadores/patrocinadores as empresas estão investindo em componentes diferenciais. Em Viticulture, esse plus ficou por conta dos multi-meeples. Ao invés de meros marcadores, pois poderiam ser e teriam a mesma funcionalidade, o jogo traz um tipo de meeple diferente para cada função que ele irá exercer. Então, temos uvas, carroças, vinhedos, caixas d’água, celeiros, e toda a sorte de outras instalações.



O jogo:
A mecânica imperativa de Viticulture é de work-placement, ou seja, aloque seus trabalhadores em locais que permitirá executar determinadas ações no jogo. Além dela, há ainda compra e uso de cartas. Existem quatro tipos delas, a de uvas (para plantar), 2 tipos de ajudantes (que dão poderes especiais e eventuais pontos de vitória extra) e as de demanda do mercado (que são os objetivos a serem cumpridos ao longo da partida). E pra terminar produção e gerência de recursos (uvas e vinhos).



Cada jogador deve, na sua própria fazenda, plantar diferentes uvas no mesmo vinhedo. Esta parte pecou tematicamente, pois, embora exista o nome de cada uva nas cartas, elas de nada influenciam o jogo, são apenas detalhes decorativos. Syrahs são plantadas com Malbecs e Cabernet Sauvignon sem qualquer problema. Inclusive pode-se plantar uvas brancas e vermelhas juntas. Estrategicamente, inclusive, é muito vantajoso, pois na hora da colheita, o jogador já obtém os dois tipos de uvas, o que lhe dará muita vantagem.

Atendendo a demanda de mercado (cartas de objetivo), o jogador converterá suas uvas em diversos tipos de vinho: tinto, branco, rose e espumante. Naturalmente que os dois últimos tipos são mais caros, difíceis e rendem mais pontos, mas saber equilibrar sua produção é fundamental. Focar nos objetivos simples no início do jogo e um difícil no final é uma boa estratégia, quando as cartas permitirem. Sim, existe uma aleatoriedade que depende das cartas compradas, e às vezes te fazem sofrer um bocado.

A tabela de pontuação é apertada, e o jogo termina quando algum jogador ultrapassa os 20 pontos. Todos iniciam com 5 pontos, pois há a possibilidade de perda de pontos durante o jogo. Dinheiro, como sempre, é escasso, mas principalmente no início quando é necessária a construção de equipamentos na fazenda. Ao final, chega a ser obsoleto.

O jogo é dividido temporalmente nas estações do ano, e as rodadas são regidas por essa divisão. É uma boa forma de se controlar algumas ações do jogo e aproximá-lo do tema. O tabuleiro é dividido em duas partes, e todas as ações referentes a plantação, incluindo visitas a vinhedos e construção de equipamentos é feita durante a primavera. A parte referente à colheita e produção do vinho é toda no outono. O verão e o inverno são funções burocráticas e compra de cartas de ajudantes.


O jogo ainda simula um mini-mercado de ações, como uma mesadinha que o jogador pode receber a cada turno.

Comentários:
Dentre os jogos com temática “vinhos” lançados nos últimos anos, Viticulture é de longe o mais leve dentre eles. Regras simples e fácil jogabilidade, um bom work-placement. Com dois jogadores, a disputa por locais no tabuleiro torna-se muito mais acirrada, fazendo valer muito mais a conquista pelo starting player. As duas jogadas finais na luta pelos vinte pontos também conferem uma boa adrenalina.

Tematicamente o jogo deixa muitos furos. Talvez fosse preferível ser um mero jogo sobre vinhos, genérico, do que querer ser mais do que pode. A ambientação toscana é quase nula, a falta de sentido para as uvas é lastimável. E a falta de outras referências nas próprias cartas bônus também esvaziam o tema. Uma pequena variante que adotamos sem querer e acredito que possa ser usada para deixar o jogo um pouquinho mais difícil, é plantar apenas uvas do mesmo tipo, vinhedo só de tinto ou só de branco. Vai ficar mais competitivo do que podendo plantar as duas uvas juntas.

Para mim, o mais charmoso do jogo foi um dos prêmios do financiamento coletivo. Nada de pecinhas extras, ou pôsteres autografados. E agradecimentos no manual de regras ficou démodé depois disso. Todas, absolutamente todas as cartas e moedas possuem o nome das pessoas que contribuíram com o jogo. Jogadores, casais e até famílias inteiras estão presentes. E para melhorar ainda mais, as ilustrações das cartas são baseadas nos seus “patrocinadores”. Tem como não amar isso? A história por trás da história, olhar para cada carta do deck e imaginar de quem é aquele retrato, eternizado no jogo de tabuleiro.



Primeiro jogo da dupla Jamey Stegmaier e Alan Stone, que este ano ainda lançará seu segundo jogo, Euphorya.  Americanos fazendo euro-games, a nova tendência do mercado.


Infos:
Número: 2 a 6 jogadores
Duração: 60 minutos
Idade: 10 anos
Editora: Stonemaier Games

[Resenha publicada originalmente na Ludo Brasil Magazine nº 30]

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