21 de abr. de 2013

[Financiamento Coletivo] Cook-off

Por que eu financiei o Cook-off

Por Arnaldo V. Carvalho

Há algumas semanas atrás ajudei um jogo de cartas a ser lançado no mercado. O jogo é uma brincadeira que gira em torno de um concurso fictício de culinária onde participam chefs caricatos e trapaceiros. Os jogadores montam suas receitas e sabotam as receitas alheias.



O jogo é belo, irônico, divertido, interativo – um belo presente para um amigo gourmet ou gourmand, para uma família que gosta de estar junto, ou quem sabe um conhecido que pretende fazer uma viagem de trem pela Itália ou outro centro gastronômico mundial. Um jogo a casar com uma boa tábua de queijos e um vinho de qualidade junto a bons amigos. Uma brincadeira a envolver o avô, os tios e sogros com os pais dos bebês que dormem no carrinho próximo aos sofás da sala onde todos riem.

Todavia, os amantes de jogos de tabuleiro – que movimentam um crescente mercado voltado a um exigente público adulto de média-alta condição socioeconômica - parecem não ter se empolgado em promover o lançamento do Cook-Off. Acredito que o tema (culinária) e o perfil levíssimo (filler) do jogo não favoreceu. E assim, até o fechamento desta matéria, o financiamento coletivo ainda estava longe de atingir sua meta.

Naturalmente, a Funbox está aprendendo muito com essa primeira iniciativa, e talvez o grande equívoco relacionado ao marketing de captação seja a estratégia de divulgação. Minha percepção é que ela se restringe demais aos nichos gamers, e os gamers querem jogos mais estratégicos, querem jogos mais euro, e querem Best-sellers. Até certa medida, o Cook-off ainda foi “atrapalhado” por esse meio ao ser promovido quase junto ao lançamento da versão nacional do Munchkin, com quem compartilha algumas características (divertida troca de implicâncias entre os jogadores). E finalmente, há a concorrência por patrocínio, onde disputam diversos títulos nacionais e internacionais que visam ser publicados através do sistema de crowd funding.

Se fosse um gamer típico, também não sei se curtiria tanto o tema do jogo. Possivelmente, não investiria o valor estimado (cerca de R$75,00) no Cook-off se o encontrasse numa prateleira da Ri Happy ou a venda no Mercado Livre. Mas acho que há bons motivos para a comunidade inteira participar do financiamento coletivo do primeiro jogo da Funbox.

Primeiro que prestigia o jogo nacional de qualidade – e disso ninguém duvida, a arte é primorosa e estou certo de que o acabamento dos componentes seguirá essa linha. Segundo que o financiamento pode ser até mesmo de R$5,00, o que não mata ninguém. Terceiro, colabora para o nascimento de uma nova fabricante de jogos que se somará a Galápagos e Devir e como a fornecedora de jogos com qualidade internacional oferecidos – a Funbox.

É bom frisar que outros financiamentos coletivos de jogos nacionais, alguns bastante interessantes por sinal, são medidas igualmente apoiáveis. Mas são iniciativas independentes, e não lançamentos capaz de alavancar outros, feitos por uma empresa com planejamento de lançamentos sistemáticos em longo prazo. Cook-off não é o sonho de uma pessoa que quis ver seu jogo publicado, mas o sonho de um grupo que quer oferecer a chance de ver muitos desses sonhos publicados.

Reclamamos tanto e durante tantos anos do parco desenvolvimento do mercado nacional, e quando ele finalmente lança suas sementes, não oferecemos a cobertura necessária para ele vingar no solo brasileiro.

Nos jogos, como nos livros e filmes, parece que o brasileiro tem preconceito contra si mesmo. Prefere sempre o importado, seus olhos se acostumaram a acreditar que o que vem de fora é sempre melhor. Sabemos que não é assim. Vejo isso no Recicle, que é sempre bem comentado mas nunca jogado. O primoroso trabalho de Luish felizmente soube ser vendido, aproveitando o tema e participando de campanhas de interesse público. Mas os amantes de jogos mesmo são monótonos: “o jogo é muito bom”. E lá fica ele na prateleira.

Em alguns meses, eu terei  o orgulho de receber a caixa autografada do Cook-off. Financiei o primeiro do que será uma grande (em qualidade e quiçá quantidade) coleção de jogos a ser disponibilizada pela Funbox no próximo ano. E possivelmente, vez por outra, olharei para a estimada caixinha e pensarei: “O primeiro Funbox game a gente nunca esquece”.

*  *  *

Site do financiamento: http://funbox.com.br/thecookoff/
Término: 27/04/13
Designer : Luis Francisco
Artista: Marcelo Bissoli e Luis Francisco
Publisher: FunBox Jogos
Nº de jogadores: 4 a 6
Duração: 40 minutos
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Arnie Carvalho é um Polímata dedicado ao maravilhoso engenho do Homo ludens.

3 comentários:

  1. Parabéns pelo post e pela análise da situação feita aqui, Arnaldo. Com certeza o The Cook-off merece nosso apoio e todos nós torcemos pelo sucesso da FunBox Jogos nessa empreitada.
    Grande abraço

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  2. Valeu Jaime! A ideia do post é tecer uma análise honesta não simplesmente em relação ao Cook-off, mas em relação ao contexto em que ele está sendo lançado. Torço muito pelo projeto, pelo próprio bem do mundo dos jogos. Abraços, Arnaldo

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