26 de abr. de 2013

A experiência Funbox

Por Arnaldo V. Carvalho

Há algum tempo, soube de uma nova iniciativa no mundo dos jogos de tabuleiro chamada Funbox. Um local onde se podia jogar e alugar jogos para levar para casa. A idéia para mim não era nova: fui o primeiro sócio daquela que talvez tenha sido a primeira locadora de jogos do mundo, a Além da Imaginação em Niterói (isso foi no final dos anos 80). A notícia me fazia farejar um reflorescimento do hobby no Brasil. Mas como seria esse lugar? Seria possível jogar no próprio espaço, como já se faz em alguns poucos bares temáticos espalhados pelo país? O acervo seria variado o bastante, atual o bastante, inovador o bastante para justificar que alguém alugue ao invés de comprar?

Peguei o metrô e fui para lá tentando imaginar como pode, numa década onde os jogos online são tão disponíveis e baratos (até mesmo gratuitos), onde de fato já não se precisa da presença humana para uma partida acontecer, alguém pensar ser viável trabalhar com jogos de tabuleiro por si só, ainda mais em sistema de locação. E se ninguém mais precisa de amigos para jogar, o que sustenta essa cadeia? Eu precisava encontrar uma resposta, postulei para mim mesmo que “primeiro você precisa do jogo. Depois, dos amigos para jogar. E finalmente, precisa de um ambiente onde todos se sintam confortáveis”. Talvez   a Funbox podesse oferecer o jogo, e quem sabe, o ambiente para os amigos.

Cheguei lá por volta das 17h, após cinco minutos caminhando em declive (no sobe e desce das ruas de São Paulo sempre ficamos felizes quando o percurso é de descida) a partir da saída do metrô. Tranquilo. A pequena lojinha, instalada em uma galeria antiga e calma, parecia a Disneylandia de qualquer gamer. Paredes preenchidas de jogos e mais jogos, muito novos. Os toplist da BGG, da Ilha do Tabuleiro, e demais comunidades gamers, todos lá. Algumas preciosidades out-of-print.  E um balcão oferecendo pequenos belisquetes, bebidas e infra-estrutura de atendimento para os aportados na loja. E há um ótimo espaço com mesas de jogo que podem ser unidas para fazer mesas gigantes, como a que fizemos momentos após a minha chegada.

Perto do balcão, um painel anunciava as condições de aluguel e uso dos jogos. Fiz umas contas rápidas: um jogo de tabuleiro de alto nível hoje em dia custa por volta de R$250,00. Um jogo. Agora, imagine que por menos de cem reais você pode ter em sua casa o título que quiser, pode jogar todos os grandes títulos do mercado. Você não precisa se preocupar em passar um jogo adiante se enjoar, não precisa se preocupar com sua conservação para além do tempo em que estiver com ele. Não precisa ficar preenchendo formulários de compra com cartão de crédito internacional, não precisa mais esperar, por vezes, meses para a chegada de um jogo, que pode no final te reservar uma taxação de impostos espúria. Sua imensa coleção agora não ocupa qualquer espaço: ela é a própria Funbox. E os jogos já não pegam poeira, são muito mais jogados e curtidos, como qualquer personagem do Toy Story sabe ser o ideal de um jogo ou brinquedo. Jogo parado é jogo morto. Quatro jogos novos? Com esse dinheiro eu pago um ano inteiro de Funbox, experimento a vontade e me divirto muito mais! Que vontade me deu morar 480 quilômetros mais próximo da Funbox!


Para além de espaço físico e acervo, minha maior preocupação quando entro em um estabelecimento comercial é sempre a qualidade de atendimento; e confesso que a Funbox me surpreendeu. Mal cheguei, e lá estava a proprietária Vanessa Santos e seu fiel escudeiro e Acessor para Assuntos nada Aleatórios Massaoka, prontos para me receber, o que ocorreu com grande alegria. Eles me apresentaram a todos os presentes da loja: Jo Nobrega (de Brasília, coincidentemente turistando pela Funbox no mesmo dia que eu!), Jorge Fugimoto, Rafael Faria, o designer de Cook-off Luís Francisco Baroni, e o genial Higa. Ambiente bem humorado, pessoas inteligentes e bacanas, chegando mais e mais. Primeiro o Alexandre “Monstro” AC, depois Gustavo “Aero” Barreto, depois Jaime Fernando, entre outros! 

O Gustavo me concedeu uma entrevista logo após me apresentar o Aero e o protótipo do card game que a Hidra Games irá lançar esse ano (detalhes na minha entrevista com Gustavo Barreto, publicada no Desbussolados). 

Com doze pessoas rindo e dispostas a permanecerem juntas, a decisão de jogo óbvia era filler, joguinhos despretenciosos para dar risada. Começamos com Werewolf, e mais uma vez a Funbox incrementou. Vanessa ofereceu a todos os jogadores “capas” com capuz ao melhor estilo “Villager” (ou chapeuzinho vermelho, quem sabe),  e o jogo foi disputado com um clima lúdico a mais. Desse passamos para o Dixit, que com doze pessoas esquentou bastante! 



Mas quando se está entre bons amigos, a hora passa rápido, e logo chegou a hora de fechar a loja. Ninguém sentiu o tempo passar, e o clima fraterno não permitiria a mera dispersão. O grupo então decidiu seguir junto para uma pizza próxima, aliás, pedida perfeita pós-Funbox.  E lá fomos pelas ruas, conversas sobre o mundo do jogo, sobre a vida. “o pessoal da Redomanet foi?” “por que há mais homens do que mulheres que curtem jogos de tabuleiro?”, “quando é que o Luís vai resolver requerer seus direitos no lançamento do Mehinaku”? “E o Cook-off”? “já jogou aquela expansão nova do Dominion”? “já mora há muito tempo aqui?” “Quem tem o…?” “o Star Trek Building Deck é bom assim”? “Li aquela resenha no Desbussolados”! 

Pizzas diversas, bom humor e mais conversa livre, o encontro foi concluído com chave de ouro. De lá para a rodoviária, segui de volta para o RJ com a sensação de que havia feito novos amigos, com quem poderei compartilhar sempre muitos momentos memoráveis.

E assim, a Funbox me fez entender que a ordem que eu propunha jogo> amigo>ambiente era no mínimo
obsoleta. Primeiro você precisa é de amigos. Depois você precisa de uma ferramenta de interação. E finalmente, você precisa de um ambiente onde essa interação possa ocorrer de maneira fluída. É justamente a facilidade de se jogar os jogos, a banalização do acesso, que faz a gente de repente perceber que o forte do jogar está nas pessoas. São as pessoas, o calor humano, a interação que fazem alguém continuar preferindo os jogos físicos aos virtuais. E isso me foi provado repetidamente em cada hora que se passou dentro da Funbox, pois é isto mesmo o que a “Caixa da diversão” Funbox tem a oferecer. 

Pois é, do que soube da abertura da Funbox até aqui, precisei guardar minha curiosidade por cerca de três anos, e parece que cheguei por lá na hora certa. A visita a Funbox me fez ver que ela preenchia todas as minhas expectativas, com sobras. Para além de um acervo de primeira, eles tinham aquilo que faz você ficar: pessoas especiais.

***

Arnaldo “Arnie” Carvalho, 37 anos, é terapeuta e boardgamer, criador do Niterói das Peças.

3 comentários:

  1. Cara, você chegou mais do que na hora certa! Juntamos um grupo muito improvável, coisa que combinando não daria certo. Foi uma noite memorável, até pelo fato de finalmente ter a chance de conhecer o grande Arnie, meu companheiro virtual há algum tempo. Espero que esses bons ventos que trouxeram tanta gente de longe, continuem soprando para - cada vez mais - reunir esse pessoal bacana, seja aqui, seja no Rio, em Americana, em Brasília ou onde quer que existam amigos conhecidos ou em potencial!

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  2. Foi um daqueles dias tipo "se tivesse marcado não dava tão certo", mas bem que a gente podia tentar marcar e se encontrar de novo por lá, né? Ficou perfeito o artigo :)

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  3. Jorge H. Fugimoto - Japa29 de abr. de 2013, 08:58:00

    Fala Arnie, muito legal o post e parabéns pelo site, só coisa bacana!!! É isso ai: "São as pessoas, o calor humano, a interação que fazem alguém continuar preferindo os jogos físicos aos virtuais.". Resumiu tudo...

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